Ciência, técnica e tecnologia em meio ao colapso ambiental no Antropoceno é o tema do PET-conecTTE para 2022

Em 2022, são comemorados os cinquenta anos da Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento e Meio Ambiente Humano, chamada também de Conferência de Estocolmo (1972). O evento é um divisor de águas importante, pois marca o início de um consenso científico em torno da degradação ambiental e de seus impactos. A partir daí, iniciam-se estudos consistentes que apontam para as consequências do modelo capitalista, como o aquecimento global, e são feitas diversas iniciativas que incluem outros encontros, protocolos e acordos que buscam um modelo de desenvolvimento que vise um equilíbrio entre a produção, o ser humano e o meio ambiente.

Hoje, algumas análises apontam que a Conferência de Estocolmo iniciou um movimento de aproximação que se mostrou inviável ao longo do tempo, pois a lógica produtiva capitalista ilimitada não seria compatível com uma atitude de prudência em relação à natureza, pelo contrário: haveria um caráter destrutivo no capitalismo, o que nos coloca num fluxo contínuo para o colapso ambiental.

O Antropoceno é um conceito que emerge no contexto dessas discussões. O Antropoceno representa um novo período histórico marcado pela ação humana intensificada, que impulsiona a degradação ambiental e catalisa diversas catástrofes. A origem do termo é atribuída ao Prêmio Nobel de Química (1995), Paul Crutzen. Ele tem sido utilizado em diversos campos do conhecimento, das ciências da natureza às humanidades. 

O Brasil, país conhecido pela sua biodiversidade e etnobiodiversidade, tem enfrentado um projeto sistemático de destruição que quer “passar a boiada” na questão ambiental. Os exemplos são inúmeros e, tristemente, incontáveis, mas alguns permanecem vivos. Em novembro de 2015, em Mariana, houve o rompimento de uma barragem controlada pela Samarco Mineração S.A., um empreendimento conjunto das maiores empresas de mineração do mundo, a brasileira Vale S.A. e a anglo-australiana BHP Billiton. Em janeiro de 2019, uma barragem da mineradora Vale rompeu matando 270 pessoas. Aos crimes de grande repercussão, somam-se exemplos diários e cotidianos de destruição. Mesmo com todos os casos, é forte a pressão para que seja aprovada a chamada flexibilização do licenciamento ambiental e a proposta de um Novo Código da Mineração nesses moldes permissivos. Uma forma suicidógena com a qual os humanos encontraram de lidar com o Planeta.

Muitos desafios estão colocados:

. Como essa condição planetária afeta a humanidade? Quais as diferenças locais diante de um olhar global e universalista que, muitas vezes, desconsidera o sul, as periferias, os saberes populares, tradicionais e ancestrais?

. Quais os efeitos práticos dos acordos, protocolos e “consensos” internacionais? Eles servem a quais interesses ao forjar algo supostamente global e consensual?

. Como ciência, técnica e tecnologia podem ser vistas dentro do Antropoceno? Elas são um instrumento destrutivo? Elas podem se tornar meios de superação do colapso, um caminho para o equilíbrio? 

. Preservar o Planeta passaria por um rompimento com a tecnociência? Se for isso, ele é possível? Como fazê-lo?

. Como a crítica, inclusive aos discursos da consciência ambiental individualizada ou de uma sustentabilidade do capitalismo, pode contribuir para novos pensamentos e mudanças de rota nas ações humanas?

. Como pensar o Antropoceno dentro de uma onda de negacionismos que desconsidera os perigos que estão colocados ao Planeta?

. Como o encontro com outros saberes e outras tradições pode fornecer novas formas de lidar com o conhecimento e sobre como lidamos com a relação humano e natureza?

. É real a divisão entre nós (humanos) e os outros (não humanos e tudo que integra a natureza)?

São esses questionamentos e desafios que vão conduzir e estimular o PET-conecTTE em 2022.

*Crédito da imagem de capa: REUTERS/Washington Alves

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